
Não lembro a marca. Era um banheirão. Um arrojado banheirão preto, encerado e marcado por uma garoa. Estacionou bem na vaga do "carga e descarga". Puxou o freio de mão e abriu a porta.
Eu, instintivamente, sacudi a cabeça e baixei, como quem diz "não, não...". O tiozão saiu do carro. Cabelo duro pra trás, garganteou:
- É carga e descarga, mas eu nã0 vou demorar, viu? Não precisa ficar balançando a cabeça - falou, com sotaque inconfundivelmente carioca. E bateu a porta.
Sorri por dentro. Abri a porta do caroneiro do Mr. Eko e coloquei as compras atrás do banco, bem devagar. Ainda degustava a indignação descabida do lambido quando ele apareceu, lá de trás, gritando de novo. Eu já me dirigia para a porta
- Viu? Eu já voltei. Eu não demorei, disse o cara, com uma sacola (que não era de compras na mão).
Acenei que sim com a cabeça, estendi o polegar. Mas mantive meu risinho nos lábios. Entrei no carro, o homem veio atrás:
- Quem você acha que é pra ficar me tirando assim, hein? Te conheço?
Respondi, ainda sorrindo:
- O meu nome é Rodrigo. E devo ser bem importante pra você dar tanta bola pro que eu penso, né?
Acho que vi fumacinhas saindo da cabeça dele, quando deu meia volta. Eu engatei a ré, depoiis a primeira. Entreguei o cartão do estacionamento e saí, com o cara logo atrás. Acelerava sem estar engrenado. Cruzamos duas esquinas juntos, até que ele quebrou à esquerda e sumiu, acelerando seu possante. Eu ia acenar. Mas não precisou.
Falou!