Passou a chuva, veio o sol de rachar que durou dias inteiros. Mas a tal da placa de área alagada continuava lá, aporrinhando a vida do motorista. Desvio pelo paralelepípedo irregular. Lentidão. quase acidente. Todo dia, dia sim, dia sim.
Usava a rua todo dia para ir e voltar do trabalho. Ele e um caminhão de gente que chegava e saída da cidade.
Madrugada de um dia de semana. Voltando do boteco já embalado, fez o que sempre quis. Enfiou o carro popular entre uma faixa e uma placa de interdição. Primeiro obstáculo vencido fácil. Mais 200 metros, tocou o pé no freio. Não dava mais. Placa, placa e placa. Três.
O caroneiro quis aconselhar:
- Melhor fazer a volta, acho que não passa.
Não deu ouvidos. Andou mais, chegou bem perto. Parou
- Tira a placa
- Quê?
- Tira a placa da frente!
O caroneiro desceu do carro meio sem jeito. Lembrava aqueles que nunca tinham pixado nada, olharzão desconfiado. Logo ele, descolado-mór.
Pegou a placa amarela e preta com a ponta dos dedos das duas mãos. levou nem meio metro para o lado.
- Passa?
- Derruba!
- Passa o carro?
- Derruba esta merda!
Deu um safanão meio despretensioso. A placa bambeou para os dois lados, e caiu em pé.
- Derruba esta merda !!!!
O segundo empurrão foi mais que suficiente. Placa de pés e pernas pro ar.
Caminho aberto, caroneiro de volta, caminho livre. Riram, mas o melhor estava por vir.
Dia seguinte, perto das 11 da manhã, passou de novo por lá. A placa continuava lá, de pernas pro ar. O trânsito, nem lá, nem cá. Invasores do espaço estavam seguindo o asfalto. Os certinhos iam pelo desvio esburacado.
Deu mídia. Radialista conhecido na cidade abriu comentário em seu programa de meio-dia
- Olha, gente, hoje passei ali na frente do cemitério e vi uma cena que me chamou a atenção. Derrubaram a placa de interdição, e estão passando. Bom, eu fico pensando que o quão indignado está esse cidadão pra fazer isso. Me coloco no lugar dele, tendo de desviar todo dia. Acho que ele externou o que muita gente estava tendo vontade. Seja lá quem foi, abriu caminho com as próprias mãos, porque a prefeitura simplesmente se omitiu.
À tarde, os guardas já tinham erguido tudo de novo. Mas, talvez por coincidência, pegou a moda. Passou mais uma semana, e cada noite, um doido derrubava.
Até a prefeitura "nova" tomar vergonha na cara e começar a mexer no barranco, motivo de toda aquela interdição. Tiraram os cavalentes dez dias depois.
... E dizem que bêbado só faz merda.