sábado, 31 de janeiro de 2009

O carona, a placa e o radialista

Ele e a cidade inteira já estava emputecidos com a situação.

Passou a chuva, veio o sol de rachar que durou dias inteiros. Mas a tal da placa de área alagada continuava lá, aporrinhando a vida do motorista. Desvio pelo paralelepípedo irregular. Lentidão. quase acidente. Todo dia, dia sim, dia sim.

Usava a rua todo dia para ir e voltar do trabalho. Ele e um caminhão de gente que chegava e saída da cidade.

Madrugada de um dia de semana. Voltando do boteco já embalado, fez o que sempre quis. Enfiou o carro popular entre uma faixa e uma placa de interdição. Primeiro obstáculo vencido fácil. Mais 200 metros, tocou o pé no freio. Não dava mais. Placa, placa e placa. Três.

O caroneiro quis aconselhar:

- Melhor fazer a volta, acho que não passa.

Não deu ouvidos. Andou mais, chegou bem perto. Parou

- Tira a placa
- Quê?
- Tira a placa da frente!

O caroneiro desceu do carro meio sem jeito. Lembrava aqueles que nunca tinham pixado nada, olharzão desconfiado. Logo ele, descolado-mór.

Pegou a placa amarela e preta com a ponta dos dedos das duas mãos. levou nem meio metro para o lado.

- Passa?
- Derruba!
- Passa o carro?
- Derruba esta merda!

Deu um safanão meio despretensioso. A placa bambeou para os dois lados, e caiu em pé.

- Derruba esta merda !!!!

O segundo empurrão foi mais que suficiente. Placa de pés e pernas pro ar.

Caminho aberto, caroneiro de volta, caminho livre. Riram, mas o melhor estava por vir.

Dia seguinte, perto das 11 da manhã, passou de novo por lá. A placa continuava lá, de pernas pro ar. O trânsito, nem lá, nem cá. Invasores do espaço estavam seguindo o asfalto. Os certinhos iam pelo desvio esburacado.

Deu mídia. Radialista conhecido na cidade abriu comentário em seu programa de meio-dia

- Olha, gente, hoje passei ali na frente do cemitério e vi uma cena que me chamou a atenção. Derrubaram a placa de interdição, e estão passando. Bom, eu fico pensando que o quão indignado está esse cidadão pra fazer isso. Me coloco no lugar dele, tendo de desviar todo dia. Acho que ele externou o que muita gente estava tendo vontade. Seja lá quem foi, abriu caminho com as próprias mãos, porque a prefeitura simplesmente se omitiu.

À tarde, os guardas já tinham erguido tudo de novo. Mas, talvez por coincidência, pegou a moda. Passou mais uma semana, e cada noite, um doido derrubava.

Até a prefeitura "nova" tomar vergonha na cara e começar a mexer no barranco, motivo de toda aquela interdição. Tiraram os cavalentes dez dias depois.

... E dizem que bêbado só faz merda.


quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A bicicleta e o porteiro

Já tinham terminado o namoro. Ele, inexperiente, até que tinha suportado bastante. O cara era muito na paz. Mas a guria? Ah, ciumenta e anti-social. Tá, era um porre mesmo.
Saíam com amigos dele, ela mal falava com os outros. Cara de paisagem, e paisagem de dia cinzento no meio do concreto. Isso quando saíam. Ela viajava? Nem muito aí pra ele.

Foi mesmo o melhor.

Depois do fim, fez o que muitos diziam ser certo: se livrar da maioria das lembranças. Fotos foram para a fita. Conversas botaram algumas mágoas para fora. 

Mas a bicicleta ergométrica continuava ali. Não era sua. Nem dela. Era emprestada da sogra. Aquela, sim, era gente boa com ele - é o que ele dizia

- Tu usa muito essa ergométrica?
- Não, não
- Então me empresta?
- Arrã.

A cara-de-pau já não impressionava os amigos. Mas ele lá foi ele, com a bike enfiada no bagageiro do carro popular.

Se ele usou? Meia dúzia de vezes.
Mas a herança estava lá. E ele não queria mais o menor contato com o lado de lá.

Aí, descendo o prédio de samba-canção para ir ao mercadinho (fazia isso com certa frequencia), parou no porteiro. Para ele, todos os porteiros eram gente fina.

- sabe de alguém que quer comprar uma bike ergométrica?
- quer quanto nela?
- Uns cem pila
- tá inteirinha?
- quer ir lá ver?

Não demorou, o negócio estava fechado. O homem-cueca ajudou a descer a bicicleta, feliz da vida.

Só não faço idéia da explicação que ele deu, semanas depois, quando a ex-sogra ligou pedindo a ergométrica. Devolver, eu tenho certeza que ele não devolveu.




sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Papagaio no apito



O árbitro Gary Bailey deu "cartão vermelho" ao papagaio chamado Me-Tu, de nove anos, em um jogo amador, no Reino Unido, depois que o pássaro começou a imitar o barulho do apito, o que provocou confusão em campo, segundo o jornal inglês "Daily Mail".

O papagaio foi levado na gaiola por sua proprietária Irene Kerrigan, de 66 anos, ao jogo envolvendo Hertford Heath e Hatfield Town, em um torneio de veteranos, porque o pássaro gosta de observar os jogadores correndo. "Eu já mandei alguns jogadores para o 'chuveiro', mas eu nunca tinha expulsado um papagaio", disse Bailey. 

Aos 10min do segundo tempo, segundo o árbitro, um jogador partia com a bola para o ataque, mas, de repente, ele ouviu um apito e parou. No entanto Bailey destacou que não havia soprado o apito em nenhum momento. Após uma breve parada, ele deixou o jogo amador continuar, mas o papagaio seguiu imitando o barulho do apito, interrompendo o jogo outras vezes.

 Primeiro, o juiz pensou que era a própria Irene Kerrigan quem estava fazendo o ruído. "Não sou eu, é o meu papagaio", afirmou a mulher para o árbitro. Sem alternativas, Bailey teve que expulsar o pássaro de campo porque ele estava arruinando o jogo. Evidente, sua dona também foi mandada embora.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Táxi


Madrugada, meia dúzia de taxistas conversavam no ponto. 

Táxi é também loteria. O motorista que está na vez reza para pegar boas corridas. Se der errado, vai pro fim da fila sem a bufunfa.

Mas também pode dar um jeitinho

- Boa Noite
- Pra onde, patrão
- Hotel Íbis
- Sim, sei
- Mas quanto vai dar
- Levo o senhor lá por R$ 5
- Obrigado

O velhinho, recém chegado na cidade, ia se dirigindo para a porta de trás. O motorista já tinha pegado a sua mala. com a mão direita.

Com a esquerda, trancou o carro, deois catou o idoso pelo braço e saiu andando ráaido.

- Que é isso, meu senhor?
- Estamos indo para o hotel.

A conversa parou por aí. Mas nem daria tempo de se alongar.O Hotel ficava na outra quadra.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Quarto errado

Acho que, afinal, encontrei um sentido para este blog. Publicar histórias engraçadas, cabreiras e absolutamente verídicas. 
Coisas de trabalho, coisas que a gente escuta no carro.
Claro, nem sempre vou contar quem é o autor da façanha.

Lá vai uma:

Verão do início dos anos 2000. Galerinha. Um que dorme na casa de outro, que chama mais não sei quem pra sair, e acaba ficando esparramado na sala. Casa cheia. Alugada, claro.

Nosso herói já tava embalado na balada. Curtiu, bebeu, beijou. E se perdeu da galera. Com homem tem mais aquele esquema de "ah, deixa o cara, se deu bem, ele sabe como chegar". Ainda mais se o botequinho é meio perto de casa.

Cinco da matina, bebaço, chegou no predinho de quatro andares. Subiu as escadinhas do térreo e foi logo fazendo o que estava combinado. Entrou pela sacada do apê, que estaria só encostada. Olhou aquela meia dúzia de colchões na sala, não deve dúvida. Estava a salvo. Tirou calça, camisa, sapato, relógio. Se jogou num cantinho de colchão. Mal se cobriu.

Quando acordou, já perto do meio dia, foi o maior cagaço. Só não sei se dele ou das pessoas que estavam ao redor. 

- Que merda é essa? 
- Quem é essa vó com essa canga horrorosa?
- E essas crianças?
- Cadê a minha calça, caralho?

A familiarada se reuniu ao redor do dorminhoco. O que tinha cara de paizão fez o óbvio.

- Cara, quem é tu?
- Quem são vocês?!!?!? Cadê todo mundo?

Descobriu, segundos depois, ainda tentando se enrolar no lençol, que tinha pulado a sacada errada. Se vestiu, pediu desculpas, e ainda tomou um gole de café.

Saiu pela porta, deu dois passos, e entrou. Outro vuco-vuco. Queriam saber onde o jaguara tinha se enfiado. 

- Dormi aí do lado...

Na praia e no boteco ele foi de novo. Mas naquele prédio, não voltou foi nunca mais.